ESCLARECENDO DÚVIDA, COM COMENTÁRIO DO PR. ED RENÉ KIVITZ
Pra. Maria Luísa Duarte Simões Credidio
Recebi de um irmão um questionamento, sobre o qual não me sinto
muito segura quanto à resposta. Essa pessoa (presbítero presbiteriano
que freqüenta uma reunião na qual prego de vez em quando) vem me
sabatinando há muito tempo. Agora me enviou um e-mail, onde perguntou
o seguinte:
Pra. Malu
Os teólogos parecem ter reconhecido um aspecto especial, não racional
(e eu não diria irracional também) da sensação do sagrado ou do santo.
Chamam isso de “numinoso”. E acham que os seres humanos estão
dispostos a adorar e venerar o “numinoso”. Isso seria uma coisa de
completa alteridade, a par da reação humana a ele como sendo de
“absoluto pasmo”? Estou confuso, me ajude.
Minha resposta
Caro Irmão:
Vamos começar definindo o termo “numinoso”. No dicionário, ele
aparece da seguinte forma: adj (lat numen+oso) Segundo a filosofia da
religião de Rudolf Otto, aplica-se ao estado religioso da alma
inspirado pelas qualidades transcendentais da divindade.
Esse termo foi usado pela primeira vez por Rudolf Otto, em 1917. A
obra que deu destaque a Rudolf Otto foi “O Sagrado – Os aspectos
irracionais na noção do divino e sua relação com o racional” e foi
publicada no ano supra citado, durante a primeira guerra mundial.
Nesse trabalho, Otto se dedicou a defender que o conceito de Sagrado
seria o elemento essencial das religiões, este seria o elemento
relacionado ao divino, não sendo passível de racionalização. Otto
compreendia que o Sagrado era uma idéia ou noção complexa, sendo
formado por dois aspectos opostos:
1 – O primeiro era o elemento “racional”. Por racional, Otto
compreendia os elementos que são nomeados, ou conceituados. Ou de
outra forma, seriam os elementos passíveis de serem claramente
comunicados pela linguagem. Nessa categoria de racional estariam as
narrativas, as doutrinas, a ética e a moral religiosa.
2 – O segundo aspecto é o que nos importa nesse momento, corresponde
ao âmbito supra racional do sagrado. E o supra racional seria justamente os
elementos que não se dobram à linguagem, fugindo a uma apreensão
conceitual. A esse aspecto Otto chamou de “numinoso”. Esse termo tem
sua origem no termo latino Numen , significa deus ou divino. O
numinoso corresponderia ao aspecto ativo, experiencial da vivência
religiosa e essa categoria só se aplicaria quando o numinoso se
manifesta, ou seja, quando o numinoso se manifesta a um individuo.
Otto propõe que única forma de se compreender o supra racional no sagrado
é ter tido uma experiência pessoal com o sagrado. Isso é tão
importante, que no terceiro capitulo ele sugere que quem não tiver
tido uma experiência religiosa ou não for capaz de se recordar de uma
experiência deste tipo, que não continue a ler o livro. O que se diz
acerca do numinoso, só faz sentido por encontrar eco na experiência
vivida.
Nesse livro ele afirma que as pessoas estavam predispostas a detectar
e venerar o “numinoso”. Ele chamou a isso de misterium tremendum que
creio não precisar traduzir. Uma vez na presença do misterium
tremendum, ele diz que as pessoas se sentem insignificantes. É aí que
o bicho pega: creio que essa insignificância não signifique falta de
importância e sim o reconhecimento do poder imensurável do Numinoso
(se compreendido como Deus).
Agora vamos falar de alteridade ou outridade que é a concepção que
parte do pressuposto básico de que todo ser humano social
interdepende e interage sozinho. Como isso não é possível e foi
fartamente discutido pelos antropólogos, não creio que a reação
humana diante Dele seria de “absoluto pasmo”, como você colocou. Em se
considerando o Numinoso Deus, nossa atitude diante Dele é de adoração.
Mas nunca de pasmo, mas sim de amor, reverência e respeito.
Ed:
Está muito inconsistente? Esse cara está me tentando esnucar, não é de hoje...Mas ainda não conseguiu.
Você pode fazer uma crítica à minha resposta? Desculpe o abuso.
Abraços e minha gratidão.
Maria Luísa
De: Ed
para: Maria Luísa

Não conseguiria escrever uma resposta melhor do que a sua. Muito boa, mesmo.
Apenas substituiria a expressão "irracional" por "supra racional".
Não creio que a experiência do sagrado seja contrária à razão, mas sim que a extrapola, e, nesse sentido, a racionalidade está aquém da realidade manifesta pelo sagrado.
Isso significa que ou o sagrado se manifesta, ou o ser humano jamais conseguirá acessá-lo valendo-se de suas capacidades racionais. A racionalidade alcança, percebe, decodifica o que é objetivo e sujeito ao método científico. Deus, o sagrado, o mundo espiritual, e as dimensões subjetivas do humano estão além do que é passível de apreensão em laboratório.
Por outro lado, quando o sagrado se manifesta ele não anula a razão, e nesse sentido é que digo que não é irracional.
Abraços e orações,
ed rené
Apenas substituiria a expressão "irracional" por "supra racional".
Não creio que a experiência do sagrado seja contrária à razão, mas sim que a extrapola, e, nesse sentido, a racionalidade está aquém da realidade manifesta pelo sagrado.
Isso significa que ou o sagrado se manifesta, ou o ser humano jamais conseguirá acessá-lo valendo-se de suas capacidades racionais. A racionalidade alcança, percebe, decodifica o que é objetivo e sujeito ao método científico. Deus, o sagrado, o mundo espiritual, e as dimensões subjetivas do humano estão além do que é passível de apreensão em laboratório.
Por outro lado, quando o sagrado se manifesta ele não anula a razão, e nesse sentido é que digo que não é irracional.
Abraços e orações,
ed rené
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